A ciência antes de Darwin

“Não é verdade, porém, que o princípio [da seleção natural] seja uma descoberta moderna. […] Regras explícitas são estipuladas pelos autores romanos. Passagens do Gênese mostram que a cor dos animais era objeto de cuidado em tempos ancestrais.”

— CHARLES DARWIN
A ORIGEM DAS ESPÉCIES, 1859

Durante 2,5 milhões de anos, nós, os seres humanos, vivíamos em movimento. Antes da agricultura, nossa espécie, não tinha um assentamento fixo, éramos nômades. Tudo isso mudou há cerca de 10 mil anos, quando o Homo sapiens começou a se dedicar à manipulação da vida de algumas plantas e animais, classificando, ordenando e aprimorando-as para nosso próprio proveito. Não é de hoje, portanto, a dependência do homem em relação à natureza, tampouco a busca pelo conhecimento. A utilização desse conhecimento para benefício próprio já acompanha a humanidade há muitos anos, mesmo antes de concebermos a busca pelo conhecimento através da ciência.

3 ilustrações de História Natural
Ilustrações de "História Natural" | 1749-1804 | Conde de Buffon
3 Ilustrações, da esquerda para direita: Asno ( burro selvagem) e zebra-da-planície. Baleia. Animal da raça bovina e gado Bisão
Ilustrações de "História Natural" | 1749-1804 | Conde de Buffon Right Whale | 1774 | Oliver Goldsmith | Em "A History of the Earth and Animated Nature" 1. OX Bos brachyceros / 2. BISON Bos americanus | 1774 | Oliver Goldsmith | Em "A History of the Earth and Animated Nature"
Desenho O homem vitruviano
O homem vitruviano | 1490 | Leonardo da Vinci
Imagem do fóssil do Cervo-do-Pantanal
Crânio de Cervo-do-Pantanal Blastocerus dichotomus | Coleção Museu Nacional
Ilustração de História Natural
Ilustração de "História Natural" | 1749-1804 | Conde de Buffon
Ilustração da obra Eden
Eden | 1774 | Oliver Goldsmith | Em "A History of the Earth and Animated Nature"
Ilustração Jaguatirica
Jaguatirica | século XVIII | Alexandre Rodrigues Ferreira
Ilustração Cena Africana
African scene | 1686 | Cooper | Em: Description de L'Afrique, de Olbfert Dapper
Pintura da obra America - As 4 partes do mundo
America - The Four Parts of the World | 1660 | Jan Van Kessel
Ilustrações Fabrico da manteiga dos ovos de tartaruga e Tartaruga
Da esquerda para direita: Fabrico da manteiga dos ovos de tartaruga | século XVIII | Alexandre Rodrigues Ferreira Tartaruga | século XVIII | Alexandre Rodrigues Ferreira
Ilustrações das obras Frontispício de Hortus Cliffortianus e Frontispício de Historia Naturalis Brasiliae
Da esquerda para direita: Frontispício de Hortus Cliffortianus | 1737 | Carl von Linné | Coleção: Missouri Botanical Garden | Biodiversity Library | Frontispício de Historia Naturalis Brasiliae | 1648 | Wilhelm Piso e Georg Laet Marggraf

HOMEM VITRUVIANO (SÉCULO I A.C.)
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O Homem Vitruviano é um conceito considerado o cânone das proporções do corpo humano, segundo um determinado raciocínio matemático, mais tarde ilustrado pelo renascentista Leonardo da Vinci. O homem descrito pelo arquiteto romano Marco Vitruvio Polião apresenta-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza.

BUFFON (1707-1788)

Segundo Darwin, o naturalista francês George-Louis Leclerc, o conde de Buffon foi um dos primeiros a estudar a origem das espécies. Para Buffon, a organização dos animais é definida pela sua relação com o homem. Animais domésticos, encabeçados pelo cavalo, pelo burro e pelo boi, são privilegiados em grande parte por causa de sua nobreza ou utilidade, enquanto a ordenação subsequente parece quase arbitrária.

HISTÓRIA NATURALIS BRASILIAE

Historia Naturalis Brasiliae, de autoria de Willem Piso e Georg Marcgrave, completou 370 anos em 2018. Trata-se de uma das obras mais importantes do registro artístico e científico do Brasil colonial. Publicada em 1648, tornou-se a principal referência sobre a fauna e a flora brasileiras até o século XIX. Foi utilizada, inclusive, como uma das fontes para a construção da taxonomia proposta por Carl von Linné.

 

Crânio de Cervo-do-Pantanal

 

O cervo-do-pantanal é o maior cervídeo brasileiro, com quase 2 metros de altura. Originalmente presente em boa parte do Pantanal e em áreas alagadas do Cerrado e Campos sulinos, sua distribuição atual é restrita a algumas regiões destes biomas, especialmente áreas preservadas. Herbívoro, sua dieta baseia-se em gramíneas e plantas aquáticas e semiaquáticas. Cervos-do-pantanal são solitários ou formam pequenos bandos temporários, sem estruturas sociais fixas. A espécie é considerada vulnerável de extinção. 

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Blastocerus dichotomus

COLEÇÃO: MUSEU NACIONAL

ARISTÓTELES (384 A.C.-322 A.C.)

Um dos primeiros a pensar na organização dos seres vivos enquanto sistema, Aristóteles contribuiu com estudos importantes sobre a história natural. Foi um dos precursores da ictiologia, o estudo dos peixes, distinguindo pela primeira vez mamíferos aquáticos, como as baleias, que respiram por pulmões, de peixes, que respiram por brânquias.

 

Foi Aristóteles quem organizou e difundiu a doutrina da “geração espontânea” admitida por filósofos naturais anteriores a ele. Segundo a doutrina, hoje desacreditada, seria possível a formação de determinados seres vivos a partir de matéria inorgânica, sem a necessidade de qualquer forma de reprodução. Nasceriam, por exemplo, peixes de pedras.

GOLDSMITH (1728-1774)

Oliver Goldsmith foi um dramaturgo e romancista irlandês fascinado pelo meio ambiente. Procurou criar um texto definitivo que registrasse a vida biológica no planeta, resultando nos oito volumes de Uma História da Terra e a Natureza Animada. Conhecido não apenas pela abrangência sobre os tipos de vida selvagem, o livro também foi importante por sua distinção inicial entre os diferentes tipos de ciências.

CARL VON LINNÉ (1707-1778)

O botânico sueco Carl von Linné admite uma linha ininterrupta de seres vivos, uma evolução linear, e a existência do Jardim do Éden como centro de origem a partir do qual as espécies se dispersavam, argumentando que todas as coisas vivas formam uma Grande Cadeia do Ser Universal. Linnaeus concebeu a ideia de “divisão e denominação” como forma de organizar os organismos vivos. Da necessidade de dar nome às coisas e organizá-las em conhecimento Linnaeus cria um sistema de classificação catalogando os seres vivos em reinos, classes e ordens, seguindo uma divisão similar à hierarquia monárquica, relacionada diretamente com a iminente noção de sistema da época e ainda utilizada nos dias atuais.

A CORRIDA DOS ANIMAIS (MITOLOGIA CRAÔ)

Conta um mito dos craôs — indígenas que habitam áreas do Piauí, do Maranhão e do Tocantins — que os animais se reuniram para realizar uma festa. “Durante a festa, resolveram apostar corrida, dois a dois; o vencedor de cada corrida deveria, daí por diante, morar no cerrado, e o vencido, morar na floresta. (…) O que se admite no mito é que os animais que correm pouco têm de evitar o perigo se escondendo, para o que a floresta é mais adequada; os bons corredores não precisam de se esconder e podem viver no cerrado, pois evitam o perigo correndo.”

— JULIO CEZAR MELATTI,
Sistemas de Classificação de Animais e Plantas pelos Índios, 1975

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