A IMAGEM DOS TRÓPICOS
Em 1832, quando viajava a bordo do navio “Beagle”, Darwin passou quatro meses no Brasil, esteve na Bahia e no Rio de Janeiro. A cidade do Rio viu passar viajantes de toda sorte, de piratas a cientistas. Foi capital, palco do início da trajetória científica e intelectual do país e deslumbre dos europeus que se inebriavam com a tropicalidade da fauna e da flora com cores e formas tão diferentes das que se viam na Europa. No entanto, a história da cidade convive também com sua face
mais bárbara: foi o maior porto receptor de pessoas escravizadas das Américas. Nossa memória coletiva sobre o período é majoritariamente formada por uma iconografia que manteve o distanciamento e procurou ser mais representativa do que crítica. De frente para a realidade, Darwin se viu diante da prática de manter pessoas negras sob a força dilacerante, opressora e violenta do regime escravocrata que, no Rio de Janeiro, acontecia a céu aberto, a olho nu.
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“(...) encontrei tantas pessoas que, cegas pela alegria constitucional do negro, falavam da escravidão com de um mal tolerável.(...) E essas são coisas feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que Sua vontade seja feita na terra! O sangue ferve em nossas veias e nosso coração bate mais forte, ao pensarmos que nós, ingleses, e nossos descendentes americanos, com seu jactancioso grito em favor da liberdade, fomos e somos culpados desse enorme crime.”
— CHARLES DARWIN
The Voyage of the Beagle, 1839
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